Resenha!: Memórias do Subsolo (Fiódor Dostoiévski)
Livro: Memórias do Subsolo
Autor: Fiódor Dostoiévski
Número de páginas: 124
Editora: Folha de São Paulo
Edição: Capa Dura
Sinopse da edição:Obra-prima da literatura mundial, esta pequena novela traz, em embrião, vários temas da fase madura de Dostoiévski. Seu protagonista, um funcionário que vive no subsolo de um edifício em São Petersburgo, expõe a sua visão de mundo num discurso explosivo e labiríntico.Olha, eu prometi a vocês que esse livro ganharia uma resenha só para ele, e posso dizer que de todas daqui do site, essa é, talvez, a obra que mais me empolga quando eu começo a falar dela. Eu espero de verdade que vocês entendam o porquê. Por volta de uns dois anos atrás, estimulado por um trabalho de literatura de uma professora que marcou muito minha vida (tanto pessoal quanto como de leitor), eu comecei minha jornada pelos clássicos da literatura. Comecei com Os Sofrimentos do Jovem Werther, e acho que o estilo do livro conseguiu me converter por completo (tanto que, desde então, procuro ao máximo obras assim para ler) ao clacissismo literário haha. Depois de Goethe (que inclusive tá citado no post de clássicos curtinhos), resolvi tirar da estante um livro que havia comprado há cerca de uns 3 meses porque havia achado a capa, a sinopse e o título completamente atraentes. Assim li Crime e Castigo. Durante a leitura dessa obra de arte, encontrei um exemplar da coleção da Folha de São Paulo de Memórias do Subsolo. Aí foi tiro e queda.
Acho que não existe uma maneira precisa de descrever bem a sinopse do livro. Acompanhamos aqui, em um monólogo absurdamente rebuscado, cheio de críticas mordazes à sociedade da época e, inclusive, a si mesmo, uma breve construção de um cenário psicológico que serve como pilar fundamental para entender o comportamento da personagem ao longo da trama. Dividida em duas partes, a história retrata, em primeiro lugar, o pensamento da personagem, até então sem nome, sobre basicamente o comportamento geral da humanidade em fronte às relações sociais. Um retrato definitivamente pessimista do homem. Mas isso, até então, é só uma espécie de preparação de terreno para o que vem na parte seguinte, À respeito da neve úmida é um título que ficou na minha cabeça durante um bom tempo, e os relatos dele nessa parte da história acho que ainda perpetuam em meus pensamentos durante algumas situações.
Quem já tem algum tipo de contato com o estilo literário de Dostoiévski conhece muito bem o tipo presente em quase todas as suas obras. Um personagem que se esconde nos recônditos tenebrosos da sociedade, que rói dentro de si todas as mazelas pelas quais passa durante a vida, que não possibilita a cicatrização de nenhum chaga no imo de seu ser. O homem do subsolo é uma faceta que permeia, se não todos, a maioria dos romances do autor, disfarçado de aluno, professor, intelectual ou até mesmo um simples homem que é mau e tem suas dores de fígado. E acho que vocês conseguiram notar a diferença de linguagem desse e do final do parágrafo anterior, não é verdade? Queria tirar um espaço específico para falar sobre esses detalhes dentro da estrutura da obra.
A escrita de Dostoiévski nesse livro difere um tanto das demais, mas ainda é possível notar muitas marcas características presentes nos demais romances. Pensamentos ríspidos, com uma visão péssima sobre a vida (o universo e tudo mais), como se você estivesse lendo um pedacinho de ódio transcrito para algumas páginas de um livro. Aqui, como o monólogo é o único tipo de diálogo que o leitor possui que não seja narrado pelo próprio protagonista, a técnica aqui utilizada é quase que um precursor do fluxo de consciência. Para aqueles acostumados com o estilo, não me apedrejem, é só que minha experiência com Faulkner está me fazendo olhar as coisas de um novo modo haha.
Acompanhar os ideais distorcidos do Homem do Subsolo leva o leitor a uma nova interpretação de inúmeras situações comuns a vida de nós todos como humanidade em si. Dostoiévski, inclusive, era umam mestre na arte de relatar o cotidiano da massa popular sobrepujada pela burguesia russa. Se pararmos para pensar no que é nos dito ao longo do livro, nosso protagonista não é ninguém que importa. Não possui um cargo alto na sociedade, não frequenta noites badaladas com partidas de uíste, não tem o privilégio de poder passar suas tardes lendo romances de época. É só um homem comim, com ideais comuns, mas com ideias absurdamente distorcidas acerca de muita coisa.
A experiência da leitura é quase que um tapa na cara. Encarar uma visão cínica e doentia sobre o homem não é algo exatamente fácil de digerir. Pelo que lembro, passei cerca de dois dias lendo a obra, lendo cerca de duas a três horas por dia. Não costumo falar muito sobre o tempo que passo lendo os livros, mas acho que essa situação merece um destaque especial porque tenho um certo gosto por leituras mais difíceis haha. Memórias do Subsolo não é uma leitura fácil, como eu já havia dito na postagem sobre clássicos curtos. E não tem “mas...” dessa vez. É uma leitura complexa, que demanda uma leitura concentrada e, às vezes, releitura de certos pontos (principalmente na primeira parte, que é o monólogo reflexivo mais extenso). Isso, lembrando, não é ponto negativo algum, mas saiba que, mesmo sendo pequena, a leitura pode demandar bastante tempo e digestão da parte do leitor. Forte perigo de ressaca literária (que pode muito bem ser curada com Crime e Castigo haha).
Acompanhar os ideais distorcidos do Homem do Subsolo leva o leitor a uma nova interpretação de inúmeras situações comuns a vida de nós todos como humanidade em si. Dostoiévski, inclusive, era umam mestre na arte de relatar o cotidiano da massa popular sobrepujada pela burguesia russa. Se pararmos para pensar no que é nos dito ao longo do livro, nosso protagonista não é ninguém que importa. Não possui um cargo alto na sociedade, não frequenta noites badaladas com partidas de uíste, não tem o privilégio de poder passar suas tardes lendo romances de época. É só um homem comim, com ideais comuns, mas com ideias absurdamente distorcidas acerca de muita coisa.
A experiência da leitura é quase que um tapa na cara. Encarar uma visão cínica e doentia sobre o homem não é algo exatamente fácil de digerir. Pelo que lembro, passei cerca de dois dias lendo a obra, lendo cerca de duas a três horas por dia. Não costumo falar muito sobre o tempo que passo lendo os livros, mas acho que essa situação merece um destaque especial porque tenho um certo gosto por leituras mais difíceis haha. Memórias do Subsolo não é uma leitura fácil, como eu já havia dito na postagem sobre clássicos curtos. E não tem “mas...” dessa vez. É uma leitura complexa, que demanda uma leitura concentrada e, às vezes, releitura de certos pontos (principalmente na primeira parte, que é o monólogo reflexivo mais extenso). Isso, lembrando, não é ponto negativo algum, mas saiba que, mesmo sendo pequena, a leitura pode demandar bastante tempo e digestão da parte do leitor. Forte perigo de ressaca literária (que pode muito bem ser curada com Crime e Castigo haha).
A edição da Folha é maravilhosa, com um acabamento simples, mas uma capa absurda de linda (além de ser capa dura). Não tive informações o suficiente na ficha técnica para saber se a tradução era direto do russo, mas ela é realmente boa, com pouco perdido. Recomendo também a da editora 34, com uma tradução impecável e acabamento perfeito, digno de colecionador 9apesar de não ser muito fã da capa). Como já havia dito, Memórias do subsolo é um livro muito bom para começar a ler Dostoiévski, se adaptar ao estilo de leitura e conhecer outros romances do autor.
5 limõezinhos!
Pedro Meireles
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