Ensaio!: "A Era de Ouro das Distopias. O que esse gênero literário tem a ver como nosso mundo atual?"
O que esse gênero literário tem a ver como
nosso mundo atual?
Ao longo de toda a história, a literatura
passou por diversas fases de composições, e elas eram moldadas sempre pelo
contexto histórico-social da época. Entre elas, temos uma fase de produções
épicas, que acompanhavam o grande desbravamento do perigoso e desconhecido
inimigo mar, uma de produções científicas, que vinham junto com a
ascensão das ciências e da filosofia e uma de produções realistas que refletiam
uma preocupação do homem moderno para com a sociedade em que ele vivia. Desde a
segunda metade do século XX andamos vivendo uma era de grandes produções
fantasiosas que trazem uma quebra do senso de realidade que o homem moderno
possui. Seria isso uma boa coisa? Viver em um período em que nossas maiores
produções se voltassem a um isolamento das situações sociais atuais indicaria
um retrocesso do adulto perante o excesso de peso moral que a sociedade impõe
sobre a complexidade do existir?
Na
primeira metade do último século, muitos autores, impulsionados pelas guerras
que estouravam em seus territórios, exploraram de maneira brilhante essas
questões. Cria-se uma espécie de fantasia distorcida da realidade em que os
problemas sociais reais atingem níveis absurdos e até caricaturados, englobando
a trama central da história e criando uma sociedade (ou até um mundo) em que o
viver é regido por esse problema, o que permite uma melhor análise crítica de
todas as coisas pequenas que permeiam a vida cotidiana e normalmente passam sem
ser notadas. Essas histórias, que usam o medo como gatilho principal, são definidas
como distopias. A parte engraçada é que esse termo surgiu somente após a
criação de seu antagônico, a Utopia.
Oficialmente definido com a obra “A Utopia”, de Thomas Morus, a expressão significa “qualquer descrição imaginativa de uma sociedade ideal, fundamentada em leis justas e em instituições político-econômicas verdadeiramente comprometidas com o bem-estar da coletividade”, ou seja, traduzindo para palavras mais simples: um ideal de mundo perfeito. Então, contrariando essa ideia, a distopia se trata de um mundo em que se vive em condições opressoras e desesperadoras.
Oficialmente definido com a obra “A Utopia”, de Thomas Morus, a expressão significa “qualquer descrição imaginativa de uma sociedade ideal, fundamentada em leis justas e em instituições político-econômicas verdadeiramente comprometidas com o bem-estar da coletividade”, ou seja, traduzindo para palavras mais simples: um ideal de mundo perfeito. Então, contrariando essa ideia, a distopia se trata de um mundo em que se vive em condições opressoras e desesperadoras.
Fazendo uma pequena análise literária, é possível se
chegar a uma conclusão muito interessante: um mundo distópico se caracteriza
por essas péssimas condições de vivência. Temos nele um sistema que não dá a
devida liberdade aos seus cidadãos e os priva de seus direitos. Mas o ponto é
que, dentro desse mesmo sistema, a sociedade em geral é alienada ao ponto de
não reconhecer o problema que as envolve diariamente. Nessas histórias, o povo
é levado a acreditar que o sistema os faz bem, e apenas o protagonista, que na
maioria das vezes se revolta contra essa doutrina geral, consegue reconhecer a
distopia em que vive. Como se pode perceber em Admirável Mundo Novo, onde
a população aceitava a hierarquia genética a que era submetida e apenas uma
pequena fração das personagens apresentadas percebiam esse problema.
Em questões de
venda e popularidade, as distopias sempre estiveram à frente das
utopias.Levando isso para uma análise social, pode-se notar que a produção em
massa desse tipo de gênero literário caracterize, assim como mencionado no
primeiro parágrafo, uma espécie de isolamento dos acontecimentos reais que nos
permeiam. Os leitores são expostos a um excesso de informação “crítica” constantemente,
o que pode levá-los a pensar que desenvolveram uma visão crítica do mundo, sendo que, ou a visão
é manipulada, ou ela é apenas uma série de informações armazenadas como em um
disco rígido, mas sem qualquer tipo de organização que as levem a apresentar
algum tipo de coesão. Em Fahrenheit 451, somos apresentados a uma
chamada “sala de tv”, que é um cômodo com as paredes cobertas por televisões,
onde a pessoa, no centro da sala, consegue interagir com a programação
televisiva, ativa 24 horas por dia. O propósito dessa sala no livro é criar a
sensação de inclusão e de utilidade para o telespectador. Entretanto, a
sensação é falsa, já que toda a interação é guiada por um roteiro que diz todas
as falas e quando elas devem ser lidas, enquanto a pessoa apenas cumpre o que
está escrito nele. O mesmo seria o que está acontecendo com a nossa chamada
“Era de ouro das distopias”, onde o indivíduo não filtra o excesso de
informação que lhe é passado, se transformando numa grande máquina de repetir
tudo àquilo que lê sem realmente saber o que significa.
Mas o quê isso influencia no modo de viver do homem moderno? Seria tudo isso discutido anteriormente apenas um grande falatório teórico que não incrementa em nada no cotidiano? A verdade se encontra consideravelmente longe disso. Essa produção cultural em massa é um indicador de uma característica preocupante dessas realidades distorcidas: tanta informação nos é jogada diariamente que não sabemos o que escolher e ler e podemos acabar simplesmente entrando em um estado de passividade e egolatria. Um dos medos de Aldous Huxley e de Ray Bradbury, detalhados muito bem em suas obras primas, era que a verdade fosse afogada em um mar de irrelevância e futilidade, e é isso que vem acontecendo ultimamente. Cada vez mais somos expostos a novas fontes de informação, a comunicação mudou muito com a popularização da internet já que não há mais a necessidade de esperar meses para receber a carta de um parente que mora longe ou até a noite para assistir o jornal e saber o que aconteceu no mundo. Fazendo uma analogia com a ficção, os nossos celulares funcionam de maneira similar às salas de tv de Fahrenheit 451: eles são nossa maior fonte de informações, com apenas a diferença de que não temos a limitação de ter que estar presente em apenas um cômodo durante o uso do aparelho. Usando-os, nós ganhamos a sensação de estar conectados com algo fora do nosso espaço físico atual e temos a (falsa) sensação de estar participando de algo maior. As redes sociais atuais fazem com que tenhamos acesso a tudo no exato momento em que está acontecendo. O problema é que, por ser muito imediato, nem tudo que vemos e recebemos nelas é realmente relevante, sendo misturado a várias notícias falsas e conteúdo click-bait e posts sensacionalistas que nem sempre entregam o que prometeram e tem como único objetivo conseguir curtidas e visualizações.
Mas o quê isso influencia no modo de viver do homem moderno? Seria tudo isso discutido anteriormente apenas um grande falatório teórico que não incrementa em nada no cotidiano? A verdade se encontra consideravelmente longe disso. Essa produção cultural em massa é um indicador de uma característica preocupante dessas realidades distorcidas: tanta informação nos é jogada diariamente que não sabemos o que escolher e ler e podemos acabar simplesmente entrando em um estado de passividade e egolatria. Um dos medos de Aldous Huxley e de Ray Bradbury, detalhados muito bem em suas obras primas, era que a verdade fosse afogada em um mar de irrelevância e futilidade, e é isso que vem acontecendo ultimamente. Cada vez mais somos expostos a novas fontes de informação, a comunicação mudou muito com a popularização da internet já que não há mais a necessidade de esperar meses para receber a carta de um parente que mora longe ou até a noite para assistir o jornal e saber o que aconteceu no mundo. Fazendo uma analogia com a ficção, os nossos celulares funcionam de maneira similar às salas de tv de Fahrenheit 451: eles são nossa maior fonte de informações, com apenas a diferença de que não temos a limitação de ter que estar presente em apenas um cômodo durante o uso do aparelho. Usando-os, nós ganhamos a sensação de estar conectados com algo fora do nosso espaço físico atual e temos a (falsa) sensação de estar participando de algo maior. As redes sociais atuais fazem com que tenhamos acesso a tudo no exato momento em que está acontecendo. O problema é que, por ser muito imediato, nem tudo que vemos e recebemos nelas é realmente relevante, sendo misturado a várias notícias falsas e conteúdo click-bait e posts sensacionalistas que nem sempre entregam o que prometeram e tem como único objetivo conseguir curtidas e visualizações.
A sociedade vem
vivenciando uma grande epidemia de uma espécie de Síndrome de Peter Pan, já que
o adulto resolve se isolar na ficção ao invés de encarar a realidade. A parte
interessante é que essa síndrome tem seu nome derivado de uma Utopia.
Irônico, não é?
Beatriz Toscano e Pedro Meireles
Sou leitor a pouco tempo. Vinha buscando uma porta para entrar neste mundo e o portal da distopia estava escancarado. Fui sugado para esse mundo e fiz inúmeras leituras. Agradeço a você Pedro por ter me ajudado muito naquele momento de descobertas literárias.
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