O guia definitivo do Demolidor de Frank Miller! (Parte 1)
Ele habita a noite eterna - mas essa escuridão é cheia de sons e cheiros que outros homens não podem perceber. Embora o advogado MATT MURDOCK seja cego, seus outros sentidos funcionam com uma nitidez super-humana - seu sentido de radar o guia por entre todos os obstáculos! ele espreita as ruas à noite, um benfeitor trajado de vermelho!
Escrever sobre o demolidor não é exatamente uma tarefa fácil. Mas acho que vale a pena tentar arriscar. Eu espero que todos aqueles que se divertiam com quadrinhos na infância ou os conheceram faz pouco tempo consigam sentir pelo menos um terço do que eu senti enquanto lia todas essas obras primas. Quem nos segue no instagram sabe que a semana foi recheada de quadrinhos e todos eles foram do demônio vermelho (isso fora os que eu não tirei foto haha), e não nego que não poderia ter tido leituras melhores (obrigado bia, por ter me dado de presente a obra de arte que fechava a história <3).
A ideia desse post é fazer um comentário de introdução misturado com crítica para todos aqueles que têm interesse em começar a ler quadrinhos (mais especificamente, do demolidor) ou simplesmente têm vontade de conhecer histórias novas dentro do universo das hqs.
Então, vamos começar!
E acho que é a isso que tudo se resume, Mercenário. Quando eu enfrento e derroto você... sabendo, no fundo do coração, que estou agindo certo... quando odeio você e sua laia tão intensamente que dá vontade de chorar... quando vejo que você é maligno e não tem o direito de viver... quando, finalmente, eu tenho você na minha mira... e farejo seu medo... e ele é um aroma doce... quando chega o ato fatal e final que encerrará sua vida maldita... minha arma não tem balas.
Acho que estamos presos um ao outro.
Quando tocamos no nome Demolidor, muitos nomes vêm à cabeça dos leitores de quadrinhos: Brian Michael Bendis, que fez uma fase impecável; Mark Waid, que foi altamente aclamado; Andy Diggle, que nos presenteou com Terra das sombras; e, claro, o grande gênio que possibilitou que todos esses nomes pudessem dar ao vermelhão uma fase digna, Frank Miller. Esse nome já é mais que famoso no cenário internacional: Autor de obras altamente aclamadas como Sin City e O Cavaleiro das Trevas, Miller começou na indústria dos quadrinhos novo, por volta dos anos 80, e logo logo foi designado como desenhista do herói que estamos tratando aqui.
O ponto engraçado dessa história é que na época, a revista passava por um ponto muito fraco na carreira. Sendo publicada de dois em dois meses (lembrando que eram edições pequenas, por volta de 30 páginas), Demolidor estava beirando o limbo editorial, e pronto para ser esquecido dentro do universo Marvel. E é aí que entra o nosso anjo salvador. Os desenhos de Miller (que na época eram completamente diferentes daqueles que estamos acostumados a ver desde o Cavaleiro das Trevas 2) caíram como uma luva para a história, dando um toque novo e completamente (isso é unânime entre os leitores) noir às histórias do Demônio. Os roteiros de Roger Mckenzie também não podem ser privados do crédito: criando um embate moral e amoroso e envolvendo um dos pares amorosos de Matt nos planos para derrotá-lo, Mckenzie criou a atmosfera perfeita para os desenhos sombrios de Miller e de Klaus Janson (que se tornou o desenhista principal quando Miller assumiu os roteiros das revistas). Acho que ninguém naquele grupo editorial teria noção do estrondo gigantesco que o menino Frank Miller faria, o que me faz sentir uma sensação engraçada quando eu leio esse quadrinho do lado. "Têm plena confiança de que o iniciante magricela FRANK MILLER seja mais um desses artistas!". E que artista, não é?
Agora que já temos uma noção do contexto do personagem dentro da empresa Marvel, vamos começar com a sua introdução dentro do Universo Marvel, e não há jeito melhor de fazer essa explicação utilizando o que é considerado a Bíblia do Demolidor: O Homem Sem Medo (Publicação da Panini Books, que você acha aqui), escrito por Miller e ilustrado por John Romita Jr. Um dia, cheio de ideias, John liga para Miller e diz que tem uma ideia incrível: uma Graphic Novel para o Wolverine. Miller diz que não vai dar muito certo, tem muita gente escrevendo pro personagem, mas que tem uma outra ideia: um roteiro antigo para um filme do demolidor que não tinha saído do papel, mas que daria para ser adaptado em graphic novel numa boa. Assim surge um clássico, meus amigos. O homem sem medo é basicamente uma viagem por toda a vida do herói, construída com base de toda a mitologia que Miller criou enquanto escrevia como roteirista para o personagem, inserindo nela todos os pedaços de passado que eram citados ao longo de flashbacks e diálogos altamente autoexplicativos da década de 80.
Se prepara que vem parágrafo de resumo aí:
Matthew Murdock é o filho de Jack "O Batalhador" Murdock, um famoso boxeador. Os dois vivem juntos, com Jack lutando (dos dois jeitos) para sustentar o filho. Jack fez uma promessa para a mãe de Matt, que não deixaria que ele crescesse seguindo o mesmo caminho do pai, mas sim que fosse alguém que seguisse uma carreira de estudos e tivesse um emprego bom, que garantisse uma vida feliz e sem muitas dificuldades. Matt tentava seguir isso ao máximo, apesar dos valentões que o importunavam, derrubando e rasgando seus livros e o chamando de "Demolidor" (acho que faz mais sentido nos EUA, em que chamavam ele de Daredevil). Tudo na vida de Matt muda quando ele resolve enfrentar esses mesmos valentões, mas por quê? Quando ele chega em casa, com seu pai bêbado, ele vê que Matt quebrou a promessa que os dois haviam feito e bate nele. É claro que uma criança fica desestabilizada quando vê o pai sendo agressivo desse jeito, e não foi diferente com o nosso futuro justiceiro mascarado: ele passou a noite na Brooklyn Bridge refletindo sobre como uma pessoa boa como o pai podia fazer alguma coisa tão ruim como aquela, tentando entender o conceito de justiça que havia acontecido ali. E naquela noite, Matthew Murdock decide que ele vai estudar direito.
O que Matt não esperava é que um dia, depois de salvar um velho de ser atropelado por um caminhão, ele entraria em contato com um isótopo radioativo que o cegaria para sempre, mas deixaria seus sentidos completamente mais aguçados (descobrimos depois que ele só aprendeu mesmo a usar direito os sentidos, o isótopo não teve muita coisa a ver). Matt conhece Stick, um velho que o ensinou a controlar o mundo de barulhos e cheiros que o rodeava e a usar seus sentidos em conjunto com suas habilidades motoras, criando um modelo de atleta quase que perfeito. O único problema que atrapalhava era a compaixão que Matt sentia. Stick não aceitou esse ultraje (quem se permite ter sentimentos?) e foi embora. Mas essa não foi a única perda que Matt teve em sua vida: Jack, seu pai, andava trabalhando para o arranjador (basicamente um mafioso que manipulava lutas) na época, e quando se recusou a perder uma luta em que seu filho estava assistindo ali, ao vivo, Jack foi morto pelos capangas do arranjador.
Todas essas perdas causaram o menino Matt a buscar justiça com as próprias mãos e, futuramente, se tornar o demolidor.
Ok, cansei. Acho que já temos base o suficiente para continuar.
Nessa leitura temos um pouco de tudo que vamos ver a seguir: um Matt em dúvida sobre a moral humana, confrontos sombrios (literalmente escuros) e muito bem desenhados, as habilidades extrassensoriais de Matt funcionando a todo vapor, e, claro, o romance de Matt com Elektra Natchios, uma futura assassina impiedosa que, por muito tempo, foi o amor de sua vida. Um bônus que temos aqui é o primeiro uniforme do Demolidor: quem assistiu à série sabe que o Demônio não começou com sua roupa vermelha e chamativa, mas sim com uma roupa preta e um capuz que tapava os seus olhos, que surgiu exatamente dessa HQ!
O Homem Sem Medo é basicamente o que a maioria dos filmes solo de herói tenta fazer: uma introdução à história do herói, mostrando os motivos que o levaram a se tornar quem ele é hoje e passando por todas as fases que moldaram a personalidade íntegra do homem que hoje conhecemos como Demolidor. O desenho de Romitinha cai como uma luva na história: mostrando o lado sombrio de Hell's Kitchen e pincelando uma das versões mais lindas da mais incrível femme fatale da Marvel, Elektra (isso em minha opinião, claro), conseguimos acompanhar toda a jornada de Matt, desde de sua infância, passando pelo amor conturbado com a filha do diplomata grego (e futura assassina do tentáculo) e finalizando com o herói já em seu traje vermelho, essa Graphic Novel é uma ótima leitura de entrada para os leitores que não tem noção alguma do herói, assim como também é uma leitura maravilhosa para aqueles que já o conhecem faz tempo. Não tem expressão melhor para definir essa história do que uma obra-prima de Demônio Vermelho. O roteiro abusa (de uma maneira extremamente positiva) dos momentos que eram flashbacks nas histórias da década de 80 para construir uma história concisa e que bate com as informações que já haviam sido montadas nos roteiros anteriores à fase de Miller (acho que a única mudança que eu notei foi a época da morte de Jack Murdock, que na década de 80 foi durante a faculdade, enquanto nO Homem Sem Medo foi dito que ela havia ocorrido pouco após o acidente que deixou Matt cego).
E, claro, não posso deixar de elogiar por um momento a edição encadernada (que é, inclusive, a que eu tenho) da Panini. Um trabalho editorial excelente, as páginas de um material muito bom (que se eu não me engano é o Couché), e o conteúdo extra não é humilde em qualidade: temos rascunhos das páginas originais, textos tanto de Frank quanto de John Romita (a explicação que eu dei ali em cima sobre como surgiu essa história saiu de um desses textos) e várias capas das cinco edições originais que foram publicadas. A capa da edição encadernada é linda, gente, de verdade.
Na minha opinião, considero que para começar a leitura, O Homem Sem Medo é, fácil, a melhor recomendação (acho que tudo que eu vou citar aqui vai ter uma avaliação de 5 limõezinhos, gente), sendo uma apresentação forte e já ambientando o leitor pro tipo de história que teremos nessa fase. Lembrando que: mesmo sendo lançado depois, a história é cronologicamente antes de tudo que tratarei aqui!
A partir desse ponto do texto, começaremos a falar dos primeiros trabalhos de Miller dentro de Demolidor, começando com Marcado para morrer, que foi o primeiro arco fechado e completamente desenhado por Frank. Para quem tem a coleção da Panini, essas edições são englobadas dentro do Demolidor por Frank Miller e Klaus Janson: Volume 1 (que você acha aqui). Eu, particularmente, li essas primeiras edições no encadernado da Salvat (esse você acha aqui, apesar de ter esgotado), que tem o mesmo nome que o arco e é um pouquinho mais barata (apesar de não ter tanto conteúdo extra como as edições da panini), mantendo o padrão de publicação em capa dura e papel couché, o que torna uma edição com um custo benefício bem legal. Mas então, comecemos os comentários sobre a edição em si!
Começando de onde o arco anterior parou, podemos fazer um breve (de verdade) resumo sobre o que aconteceu até agora: o demolidor, advogado, sócio de Foggy Nelson, namorado de Heather Glenn (herdeira da Empresa Glenn), também conhecido como Matt Murdock (Matt é quase o alter-ego dele nessas histórias), foi atacado por um trio vestido de animais e levado sequestrado para o atual vilão Arauto da Morte. Esse arco acaba bem rápido e é simples, mas ainda sim cumpre um papel de bom introdutor, já que nos mostra todo o clima sombrio e noturno de Hell's Kitchen (os comentários sobre o clima noturno vão ser constantes, pessoal). Vale lembrar que Frank era um amante de filmes noir, o que explica muita coisa em seu trabalho. O arco finaliza, já que o roteiro já tinha sido desenvolvido em edições anteriores, e agora começa a parte interessante da história: a aparição do Mercenário!
Sendo um dos principais nêmesis do Homem Sem Medo, o Mercenário é um assassino impiedoso que tem como principal habilidade... tacar as coisas. É. Exatamente isso que você leu. Mas é uma brincadeira, gente, acho que eu suavizei demais. O Mercenário é um homem altamente treinado em artes marciais que possui uma mira implacável: tudo que para nas mãos dele e pode ser atirado serve como arma mortal (isso inclusive foi muito bem representado durante o arco da terceira temporada da série). O encadernado engloba por volta de 8 edições (isso eu digo por memória), sendo que o arco que dá nome à edição é o conjunto de mais ou menos os 4 primeiros. Nele, temos (e aqui vem mais um pouquinho de resumo) um mercenário completamente raivoso, querendo a todo custo a morte do Demolidor. O vilão já começa o arco contratando a laia do gângster Slaughter para caçar o Demônio vermelho e a história se segue basicamente nesse nível: Matt tentando entender quem estava tentando matá-lo, enquanto tentava resolver seus problemas amorosos, já que sua antiga parceira (e namorada) Viúva Negra volta para Nova York. A parte mais interessante é a que o Mercenário vê a relação entre os dois e usa Natasha como isca para atraí-lo para uma parque de diversões, onde acontece o confronto final entre os dois (que é absurdamente bem desenhado), e ali vemos muito do que tem por vir: o Demolidor e a Viúva usando suas habilidades marciais para apagar todos os capangas da cena, um Mercenário ensandecido de raiva, e, depois, entrando em algum tipo de crise mental por suas falhas, e o desenho realista de Miller dando uma articulação muito incrível para as cenas.
Espero que o guia tenha começado bem, pessoal! Fiquem atentos que a parte dois vem logo logo!
Continuarei falando do final da primeira parte e assim engatamos para o que falta (espero que o post não fique divido em três haha).
Pedro Meireles
Eu já havia colocado como opção conhecer o Demolidor no próximo quadrinho. Então acho que vai ser uma boa. Vou aguardar os demais resumos!
ResponderExcluirPode deixar que é uma boa pedida pra começar, Evandro!! E os posts dos próximos dias vão ser dele também :)
ExcluirQuantos mais coisas de hq vc fizer mais eu vou ficar feliz pq vc faz um ótimo trabalho
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