O guia definitivo do Demolidor de Frank Miller! (Parte 2)

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Então voltamos aqui à história de Matthew Murdock. 


No último post, eu havia terminado os comentários no arco Marcado para morrer, o que marca o fim da primeira aparição de Miller como desenhista do Demolidor, isso ainda sobre os roteiros de Roger Mckenzie. Durante todo o primeiro momento, Miller se mantém como desenhista, entrando na área de roteiros apenas quando se inicia Elektra Saga, que trataremos logo a seguir. Mas ainda temos um pouco de informação a tratar sobre o final do primeiro quadrinho que marca a entrada do desenhista magricela que viria a ser uma lenda dos quadrinhos anos mais tarde. 

Depois que os planos do Mercenário falham e ele termina numa cena que, em minha opinião, foi de dar pena (depois de ter os planos frustrados, ele usa Natasha como refém e ameaça atirar nela se Matt não se entregasse, mas ele entra em colapso e não consegue nem atirar nela, nem nele), temos a aparição de um certo monstro, que na época era considerado uma espécie de vilão, para atrapalhar a vida do Demolidor. Quem aparece na cidade causando problemas é um Hulk completamente descontrolado procurando pelo doutor Robert Bruce Banner (esse lado do Hulk não foi tão explorado nos cinemas) porque já não conseguia controlar a vontade de matá-lo, e isso o deixou absurdamente descontrolado. Essa edição específica é muito interessante por mostrar como essa relação de diferença desproporcional de poder nunca foi um obstáculo para o Homem Sem Medo, que encara toda sua vontade de simplesmente levantar e ir embora para tentar enfrentar o Golias Esmeralda. É claro que não dá nem um pouquinho certo, mas os diálogos entre Hulk (e, posteriormente Banner) e Matt são muito divertidos de ler, sendo alguns, inclusive, uma ótima fonte de reflexão.

Resultado de imagem para hulk vs demolidorPorém, o ponto de eu tratar tão especificamente sobre esse encontro com o Hulk não é por conta dos embates muito bem desenhados ou dos diálogos interessantíssimos, mas sim por conta das consequências: a passagem do Golias por Hell's Kitchen é bem rápida, mas o estrago que ele causa na vida de Matt tem pontos duradouros. No último confronto, quando Banner se estressa dentro de um trem e se transforma, quebrando o asfalto de uma avenida com um pulo, Matt tenta intervir. Isso obviamente não dá muito certo e ele é jogado, como se fosse um boneco, em direção a um prédio. Todo mundo sabe que não é muito legal ser jogado num prédio. Mas ok, ele se levanta, apesar de todos os pesares, e ainda tenta lutar. Novamente, não dá certo. Isso tudo resulta em um Demolidor quebrado e quase morto. E é aí que entra a parte interessante da história. 

Matt é levado para um hospital (ainda em seu traje, para sua identidade não ser revelada), recebe visita de muitos de seus amigos super poderosos, da sua namorada, da viúva negra e, por fim, de uma pessoa que a partir desse momento seria um ponto crítico em sua vida, ajudando-o em muitas situações que ainda estariam por vir. Quem já é familiar com a mitologia do herói sabe que Ben Urich é uma peça crucial em muitas das histórias do Homem Sem Medo (Fim dos dias que o diga), e a origem disso se encontra nessa edição. Depois de ir juntando peças e mais peças, quando Ben ouve Heather Glenn gritando por "Matt!" quando o Demolidor estava lutando contra o Hulk, o quebra-cabeça se fecha. A última visita que Matt recebe no hospital é a do Jornalista, que coloca tudo o que tem na mesa e, com uma pergunta que toca o herói, consegue uma resposta afirmativa sobre a identidade do herói. A história da edição se segue com Matt contando toda sua história de vida (que bate perfeitamente com a contada em O homem sem medo, apenas à exceção da época da morte do pai), o que torna uma edição especialmente sentimental, salientada com uma narrativa fluida e sem muitos diálogos autoexplicativos, o que torna a leitura muito gostosa e é um ótimo flashback para quem já leu O Homem Sem Medo. Admito que, depois das edições de Marcado para morrer dentro do encadernado, essa é a minha favorita, já que o clima dentro da sala do hospital é marcado por uma tensão durante todo o diálogo, e o jeito que Matt conta sua história é muito lindo, já que dessa vez é ele mesmo quem narra, e não o narrador dos quadrinhos. A edição culmina com uma decisão bem difícil para Ben, mantendo a tensão citada até o último quadrinho. Essa leitura merece uma atenção especial. 
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Os roteiros que se seguem são de embates de Matt com mais três vilões, que não vale a pena me estender muito, porque se não eu conto a história do encadernado toda e vocês acabam perdendo a graça de ler haha. Mas vale citar que são aparições memorosas, e a edição em que o Gladiador aparece é muito incrível. A paleta de cores dos artistas muda um pouquinho, tendendo mais pro amarelo e para o laranja do que para o vermelho e o negro clássicos das edições anteriores. Isso de forma alguma é um ponto negativo, sendo que, inclusive, é uma variação que combina muito com o tom da história e com o vilão em si. Detalhe especial: acho que a cena de César dentro dessa edição é uma das minhas favoritas de toda a fase do Miller. Espero que vocês entendam o porquê. 

Ok, acho que vão acabar sendo três partes mesmo, pessoal. Mas prometo que vão ser só três. 

Pronto, acabamos com o primeiro encadernado. Desenhos incríveis, cores fantásticas. Roteiros maravilhosos. Isso tudo era ainda quando Frank atuava apenas como desenhista, junto com Klaus Janson. Agora, pessoal, a gente entra em território único e exclusivo de Miller. Os roteiros são todos feitos por ele e, eu acho que o melhor de tudo: agora nós temos a inserção da maior femme fatale da Marvel inteira: Elektra Natchios. Gente, a grandiosidade dessa obra é um absurdo. Mas um absurdo mesmo. Eu acho que de tudo, foi um dos melhores arcos que eu já li, fácil. Mas vamos lá, temos que começar a falar um pouco sobre a assassina (des)almada mais mortífera desse mundo. 

Resultado de imagem para elektra frank millerNão tem muito sentido eu contar toda toda a história do arco, porque o que vale nele é o elemento surpresa que foi intencionado na época. Qual o porquê disso? O ponto é que Elektra não era uma personagem que existia no universo Marvel até então! Miller utilizou do poder de roteirista para nos presentear com a criação do antigo amor da vida de Matt que voltou para atormentá-lo, só que agora de jeitos mais... violentos. Se você tiver começado pelo Homem Sem Medo, assim como eu sugeri, você já vai ter notado a presença de Elektra na vida de Matt. Desenhada por Romita com um traço muito sensual, a assassina foi representada de um jeito um pouco diferente do daqui (acho que eu diria que com um visual mais maduro, talvez, sem falar do cabelo cacheado), mas que não diverge em nada da personalidade da personagem.

Apresentada pela primeira vez na edição 168, Elektra Natchios é a filha de um diplomata grego que, assim como Matt, é altamente treinada em artes marciais e completamente letal. Ela conhece Matt durante o período em que os dois estavam na faculdade (o modo como eles se conhecem é um ponto que diverge da Graphic novel de Miller e Romita), e os dois acabam criando um laço forte de amizade e, não muito depois, de um amor estrondoso. Elektra marcou a vida de Matt de um jeito que ele nunca a esqueceu de verdade, tanto que, quando ela aparece novamente em Hell's Kitchen (na edição 168), ele nem sequer tem dúvidas de quem é a voz que ele escutou. E é assim que começa o desenrolar de Elektra Saga. Os dois se encontram, sendo que estavam atrás de um inimigo em comum e a partir daí o caminho dos dois se desenrola, já que Murdock descobre que ela está ligada a um grupo de assassinos conhecido como O Tentáculo que está causando uma quantidade considerável de problemas em Hell's Kitchen, e os dois são postos de lados opostos de uma mesma luta. 

Acho que esse parágrafo anterior é uma boa ambientação para vocês imaginarem o que vem por aí nesse encadernado (O meu, novamente, é o da Salvat, que você pode achar aqui, apesar da panini ter sua própria edição, que você acha aqui). A arte de Janson não decepciona em momento algum, com cenas de ação e cenas de diálogos bem feitas de maneira igual. As cores da edição dessa vez também mudam um pouco, apesar de continuarem sombrias: a aparição dos ninjas do tentáculo tornam a edição com cores do espectro do veremlho. Temos roxo, amarelo, muito vermelho (já que a roupa da Elektra também é da mesma cor da de Matt) e tons de azul escuro e preto. É impressionante como as cores de uma edição podem dar uma cara completamente nova para ela. Não preciso nem falar das edições aqui citadas: tanto a Panini quanto a Salvat possuem um ótimo acabamento, ambas com capa dura e páginas em papel Couché, que resiste muito bem ao tempo. 

Como a ideia do post é guiar novos leitores, eu tento ao máximo salientar os pontos de clímax da história sem dar muito spoiler, o que nessa parte em específico da história é difícil, porque tudo o que acontece aqui é um marco na história do Homem Sem Medo, que ele carrega até hoje nas fases mais recentes (quem viu nossos stories viu o Demolidor matando o Mercenário de um jeito bem... familiar, eu diria). Na segunda parte dessa aclamada fase, tudo gira em torno do relacionamento dos dois e como eles lidam com estarem de lados diferentes, apesar do amor ainda existir. Vemos lutas incrivelmente desenhadas, cenas de meia página com detalhes maravilhosos (destaque para a Elektra fazendo Ioga), a volta do Gladiador e... a volta do Mercenário. 

Resultado de imagem para bullseye frank millerChega um ponto da história que Elektra acaba trabalhando para o Rei do Crime como assassina particular dele, já que o Mercenário está preso (não se preocupem que isso não é spoiler, apesar de como isso aconteceu ser haha) e ele precisa de manter o controle do submundo do crime na Costa Leste. Elektra aparece, com suas habilidades impressionantes e trabalha para ele por um tempo. Nesse meio tempo, o Mercenário escapa da prisão que havia sido preso (como vimos no encadernado anterior), com cenas de tirar o fôlego. Sério, gente, as cenas dele escapando são absurdas de incríveis. Janson faz um trabalho mais que impecável nesse encadernado inteirinho. Quando Mercenário vê que seu posto com o Rei do Crime havia sido tomado, ele sai atrás de Elektra para caçá-la , e aí temos um confronto que mudou para sempre a vida de Matthew Murdock e o rumo dos quadrinhos do Demônio Vermelho. Acho que aí já dá pra ter uma noção de grandiosidade que essa hitória guarda pra gente, não é?

Acho que dentre os três volumes da fase de Miller, esse é o que tem o maior (e mais bem desenvolvido roteiro), apesar de gostar muito das histórias que seguem no encadernado seguinte (que, infelizmente, pelo tamanho desse, vai ter que ficar prum terceiro post), e, mais especificamente, a edição que fecha a fase Miller/Janson tem um lugar especial entre meus preferidos. A nota final dessa edição na verdade ultrapassa o padrão 5 limõezinhos, mas por questões de metodismo, a gente mantém os cinco mesmo haha. 

Se você gostou de Marcado para morrer, o volume dois, que compila Elektra Saga, é uma leitura indispensável. 

A parte 3 do Guia vai compilar o terceiro volume e eu pretendo falar um pouquinho de algumas menções honrosas!

(Espero que vocês estejam gostando do Guia, gente!) 

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Pedro Meireles

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