Resenha!: A Besta Humana (Émile Zola)
Ficha técnica!
Livro: A Besta Humana (La bete humaine)
Autor: Émile Zola
Número de páginas: 368
Editora: Aleph
Edição: Capa Dura
Sinopse da edição: França, 1870. Atormentado pelo desejo de matar as mulheres por quem se sente atraído, o maquinista Jacques Lantier se refugia no comando de sua Lison, a possante locomotiva a vapor com que periodicamente cruza a linha Paris-Le Havre. Os trilhos sobre os quais roda fazem com que seu destino se cruze com o da bela e cruel Séverine, e determinam as vidas dos tocantes personagens do livro. Émile Zola é o grande mestre do naturalismo francês, gênero especializado em exacerbar as fraquezas morais dos indivíduos e as realidades sociais mais degradadas. "A besta humana" faz parte da saga naturalista Os Rougon-Macquart, o portentoso projeto literário de Zola ao qual pertencem também outros clássicos como Germinal e Nana.É um pouquinho complexo tentar explicar A besta Humana sem pontuar um pouco o contexto histórico da época. 1890, França. Pros estudiosos de plantão não é difícil associar à época o que estava acontecendo: numa europa que recém passou pela revolução industrial, basicamente acontecia um boom nas atividades que envolviam a utilização das fontes de energia que haviam acabado de ser descobertas. Indústria, mineração e estradas de ferro (locomoção sempre foi um ponto importante para nós) eram o mercado da época. Isso, é claro, falando apenas do aspecto econômico! Acho que não é errado dizer que o social era, basicamente, uma bagunça: inúmeras teorias sociais explodiam na época. Evolucionismo, positivismo e determinismo eram correntes intelectuais que ganhavam espaço na mente de estudiosos e acadêmicos e moldavam, à sua maneira, o ambiente literário da época. Parecendo ter mudado tanto em um período de tempo tão pequeno após a descoberta do carvão como fonte de energia, o mundo agora parecia ter saído de um livro futurista de ficção. E é aí que entra Émile Zola.
A escola literária que reflete todos os assuntos que vimos no parágrafo anterior é chamada de naturalismo. Traíção, falta de caráter, muito sexo, a característica das coisas serem quase que personagens dentro das histórias, personagens violentas e muitas questões morais são particularidades que marcam essa escola. E Zola é considerado, no mundo, ser o pai dela. Acho que já dá pra esperar uma história meio agitada só com esse descrição, não? Não se preocupem que o livro atende, e muito, as nossas expectativas. E agora que a gente já sabe um pouquinho do contexto social, vamos à resenha!
A Besta Humana foi uma das minhas últimas leituras de 2018, escolhida especialmente para fazer uma análise dentro de um trabalho de literatura. Eu vou ser bem sincero que não sou muito fã da sinopse que o próprio livro dá, porque acho ela um pouco rasa demais e não dá a entender o ponto real da história, mas acaba sendo um pouco complicado tentar explicar a história em um parágrafo simples assim. O que eu posso tentar explicar é que: dentro da obra, nós começamos acompanhando um dia do casal Roubaud, os protagonistas do livro (junto com Lantier, mas que entra depois no enredo). O que acontece nesse dia é que Roubaud descobre um segredo sombrio sobre o passado de sua esposa e sua relação com seu padrinho e, por conta disso, bate nela até quase matá-la. Até aí já vemos o tom que a obra carrega durante todo o seu enredo. Então, por conta desse segredo descoberto, Roubaud resolve acabar de vez com esse fardo que (sim, de uma hora pra outra) resolve aparecer para acabar com a paz de espírito do seu casamento. A decisão de matar o padrinho toma todo o ser de Roubaud e ele resolve levar esse plano a frente. E é exatamente esse acontecimento que conecta a vida do casal co a de Jacques Lantier, um maquinista que estava de folga e, por conta de um ataque de nervos ao quase ter uma relação sexual com uma mulher, ele foge para perto de um trilho de trem. Passa um tempo e um trem chega correndo por esses mesmos trilhos. Aí, então, ele vê a cena que é, basicamente, o estopim de todos os acontecimentos que dão corda para o livro começar. Então, vamos lá!
Quando se fala de clássicos, normalmente a relação que muitas pessoas têm é aquela de ter conhecido o livro na escola durante o ensino fundamental, ter lido por obrigação e depois ter pego algum tipo de aversão a qualquer tipo de livro que fosse chamado de clássico. Acontece muito isso com Machado de Assis, a gente sabe. Mas quando se larga dessa aversão e resolve se dar uma chance para um livro do tipo, você pode acabar descobrindo uma história inimaginavelmente incrível. Tenho dito isso pois conhecemos muitas pessoas dentro do nosso convívio que relatam situações semelhantes. Talvez seja só uma questão de achar a leitura certa para elas, e A Besta Humana pode ser uma ótima opção para quebrar esse paradigma.
Sendo uma obra atemporal, com uma escrita maravilhosa e com ideias no roteiro que bebem muito de fontes de mestres do realismo como Dostoiévski (se você ler crime e castigo e depois ler essa obra, você vai notar algumas semelhanças bem marcantes), Émile Zola consegue construir um suspense de tirar o fôlego. Mesmo não gostando muito de frases genéricas como essa, tive que usar, porque confesso que em momentos da trama eu coloquei o livro de lado um pouquinho para poder refletir e digerir o que havia acabado de ler. As personagens na história são um misto de fúria, imprevisibilidade e paixão ardente. Em todos os momentos da trama acontece alguma coisa que nos surpreende envolvendo todas as personagens apresentadas, desde dos nossos protagonistas até o foguista que acompanha Lantier em suas viagens.
As descrições de Zola, que são uma marca forte presente no naturalismo também marcam a trama, tornando fácil conseguir imaginar os cenários em que se passam as inúmeras cenas da obra. Mas vou ser sincero que em certos momentos tive que recorrer ao dicionário para entender alguns adjetivos usados. Sem contar a parte dos adjetivos, a leitura é absurdamente fluida, estagnando apenas em alguns momentos de interlúdio entre um acontecimento e outro, onde as relações interpessoais entre as personagens são exploradas. Mas mesmo sem ter muita ação, é muito interessante ver o desenvolvimento das personagens, principalmente a do casal Roubaud.
O título seria uma referência ao transtorno pelo qual Lantier passa, de sentir uma vontade estrondosa de matar as mulheres pelas quais sentre atração física (inclusive, ponto positivo para os momentos de reflexão interna de Jacques sobre isso, que são maravilhosos de ler), mas ao longo da trama descobrimos que a besta, na verdade, se esconde dentro de todos nós.
É difícil expor todos os pontos positivos desse clássico da literatura universal, mas espero que esse pequeno comentário seja o suficiente para despertar em vocês a vontade de conhecê-lo. É um prato cheio para os fãs de suspense. Isso sem contar todas as semelhanças com crime e castigo, que, sendo sincero, me despertou uma vontade ainda maior de devorar esse romance. A edição da Zahar é impecável, cheia de comentários essenciais a leitura e um prefácio maravilhoso. As ilustrações da época também são bem interessantes de se acompanhar junto com a leitura.
Nota final
5 limõezinhos
Quando se fala de clássicos, normalmente a relação que muitas pessoas têm é aquela de ter conhecido o livro na escola durante o ensino fundamental, ter lido por obrigação e depois ter pego algum tipo de aversão a qualquer tipo de livro que fosse chamado de clássico. Acontece muito isso com Machado de Assis, a gente sabe. Mas quando se larga dessa aversão e resolve se dar uma chance para um livro do tipo, você pode acabar descobrindo uma história inimaginavelmente incrível. Tenho dito isso pois conhecemos muitas pessoas dentro do nosso convívio que relatam situações semelhantes. Talvez seja só uma questão de achar a leitura certa para elas, e A Besta Humana pode ser uma ótima opção para quebrar esse paradigma.
Sendo uma obra atemporal, com uma escrita maravilhosa e com ideias no roteiro que bebem muito de fontes de mestres do realismo como Dostoiévski (se você ler crime e castigo e depois ler essa obra, você vai notar algumas semelhanças bem marcantes), Émile Zola consegue construir um suspense de tirar o fôlego. Mesmo não gostando muito de frases genéricas como essa, tive que usar, porque confesso que em momentos da trama eu coloquei o livro de lado um pouquinho para poder refletir e digerir o que havia acabado de ler. As personagens na história são um misto de fúria, imprevisibilidade e paixão ardente. Em todos os momentos da trama acontece alguma coisa que nos surpreende envolvendo todas as personagens apresentadas, desde dos nossos protagonistas até o foguista que acompanha Lantier em suas viagens.
As descrições de Zola, que são uma marca forte presente no naturalismo também marcam a trama, tornando fácil conseguir imaginar os cenários em que se passam as inúmeras cenas da obra. Mas vou ser sincero que em certos momentos tive que recorrer ao dicionário para entender alguns adjetivos usados. Sem contar a parte dos adjetivos, a leitura é absurdamente fluida, estagnando apenas em alguns momentos de interlúdio entre um acontecimento e outro, onde as relações interpessoais entre as personagens são exploradas. Mas mesmo sem ter muita ação, é muito interessante ver o desenvolvimento das personagens, principalmente a do casal Roubaud.
O título seria uma referência ao transtorno pelo qual Lantier passa, de sentir uma vontade estrondosa de matar as mulheres pelas quais sentre atração física (inclusive, ponto positivo para os momentos de reflexão interna de Jacques sobre isso, que são maravilhosos de ler), mas ao longo da trama descobrimos que a besta, na verdade, se esconde dentro de todos nós.
É difícil expor todos os pontos positivos desse clássico da literatura universal, mas espero que esse pequeno comentário seja o suficiente para despertar em vocês a vontade de conhecê-lo. É um prato cheio para os fãs de suspense. Isso sem contar todas as semelhanças com crime e castigo, que, sendo sincero, me despertou uma vontade ainda maior de devorar esse romance. A edição da Zahar é impecável, cheia de comentários essenciais a leitura e um prefácio maravilhoso. As ilustrações da época também são bem interessantes de se acompanhar junto com a leitura.
Nota final
5 limõezinhos
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