Livros simples para quem quer começar a ler clássicos!
Acho que todo mundo em algum ponto na vida já parou, olhou para os livros que tinha na estante e pensou: "É, tá na hora de ler um clássico". Independente se você tem ou não o clássico que você quer ler, ou nem sabe qual quer, essa vontade um dia bate na gente, e é algo mais que normal. Quando nos desbravamos na leitura, percebemos muitas obras famosas sendo referenciadas por outros livros. Em Desventuras em Série, por exemplo, temos uma série de escritores citados no enredo: T. S. Elliot, Hermann Melville e inúmeras outras referências em nomes de personagens e lugares. Isso nos incita a procurar pela origem dessas citações e cria em nós uma curiosidade enorme de conhecer os alicerces da literatura, conhecer os pilares que trouxeram os livros até onde eles estão agora. Se esse momento ainda não apareceu para você, não se preocupe que a hora sempre chega.
A ideia do post hoje é basicamente dar algumas dicas de como entrar nesse mundo sem se assustar, falando um pouco sobre as histórias e as escritas. Querer ler clássicos é uma ideia maravilhosa, mas não todo mundo que de cara consegue encarar um Crime e Castigo ou um Irmãos Karamázov da vida. Entrar de cabeça pode acabar não dando muito certo e te tornar um leitor assustado com medo de clássicos, coisa que não fazer bem pra ninguém. Então, pensando nisso, eu acabei selecionando uma série de clássicos curtinhos e de leitura mais simples (mas de reflexões enormes, não se deixem enganar) para que dê para você, que está iniciando agora, se acostumar um tanto com o que te espera depois, e ler até algo como um João Guimarães Rosa ou um James Joyce por aí!
Então, vamos aos títulos!
Bem, para começar, resolvi escolher um de meus preferidos dos que estou indicando aqui, que é A Morte de Ivan Ilitch, do Liev Tolstói! Esse é um conto que Tolstói escreveu logo após sua conversão religiosa. Essa é considerada uma das obras primas da literatura universal, e humildemente devo dizer que não há como não concordar. O livro conta a história de Ivan, que está acamado, basicamente morrendo no seu leito. A narrativa volta desde o início da sua vida e vai até o momento de sua morte, gerando uma reflexão pertinente sobre o sentido que nós damos a vida enquanto vivemos e o que pensamos sobre esse sentido logo antes de morrer. Mesmo com um título mórbido, diria que seria um livro sobre o viver em si, não sobre morrer. A escrita de Tolstói é rápida, simples e descritiva de um jeito encantador, tornando a leitura fluida e cativante. Acho que, de todos, esse é aquele que tem a escrita mais simples, já que é uma narrativa bem expositiva sobre a vida de Ivan. É um ótimo início, também, para aqueles que querem ler os russos.
O segundo título não deixa a desejar nem um pouco nos quesitos de enredo e de desenvolvimento de personagem. A Metamorfose, de Franz Kafka é um clássico da literatura absurdista, que tem seu marco inicial com Bartebly, o escriturário (outra ótima recomendação). "Um dia, depois de despertar de pesadelos, Gregor Samsa acordou metamorfoseado em um inseto grotesco" é como se inicia a história, e acho que a frase já é o suficiente para o leitor imaginar qual é o tipo de leitura que o aguarda. As reflexões sobre as relações interpessoais estabelecidas na sociedade e suas conveniências são uma abordagem em paralelo à grande epopeia de Gregor em tentar convencer a família de que o inseto é, na verdade, ele. Recomendo a edição da Folha de São Paulo, que possui notas muito interessantes de apoio e uma tradução fantástica. Kafka consegue manter seu leitor confuso e querendo saber cada vez mais o que acontece na história com um enredo sólido e, no mínimo, exótico. As questões existenciais abordadas no livro são uma grande porta de entrada para a leitura de filósofos existencialistas, para quem possui o interesse.
Agora, essa leitura é para quem gosta de um bom romance. Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe, é um clássico do romantismo mundial, abordando nele questões intrínsecas ao homem como a solidão e o amor de uma forma extremamente forte e até um pouquinho exagerada, como é marca do romantismo. Aqui nós acompanhamos a história de Werther, que apaixona por Carlota, mas que é casada com outro homem. Com um enredo simples, mas sólido, o livro é narrado de maneira epistolar, como se o protagonista estivesse mandando cartas a um amigo seu. A repercussão do livro, na época, foi tanta que uma onda de suicídios (que acontecem em certo momento da trama rs) aconteceu ao longo da Europa. O acontecimento foi chamado, posteriormente, de Efeito Werther (deem uma pesquisada sobre, é interessante). Dentre todos aqui, diria que esse tem o enredo mais parado e sem muitas ações, mas é bom para entender como funciona o ritmo das obras desse estilo. Goethe também usa um vocabulário um pouco mais difícil, usando recursos estilísticos para tornar o texto mais poético, por assim dizer. Mas a leitura vale muito a pena, principalmente o final do livro e ver todo o psicológico do protagonista ao longo da trama.
A Revolução dos Bichos, de George Orwell é a obra que ocupa o quarto item da lista (lembrando que não estou fazendo em posição de preferência haha). A trama relata uma fazenda em que os animais de lá se revoltaram contra seus donos e assim, tomaram o lugar para eles, tal evento que nomeia o título do livro em inglês (Animal Farm). A obra é uma clara alusão política aos acontecimentos da Revolução Russa e que temos, inclusive, dois porquinhos que são, respectivamente, Lênin e Stálin, dentro da história. Não vou dizer quem é quem para que vocês tenham o prazer de descobrir por si mesmos haha. Com uma linguagem simples e uma trama mais do que interessante, Orwell constrói aqui uma obra para ser devorada em menos de um dia. Além do mais, o próprio livro te ajuda, já que ele tem menos de 200 páginas. O enredo se mantém sempre como uma sátira ácida e, mesmo não tendo uma sinopse exatamente agitada, a história se desenvolve muito rápido e com acontecimentos que são consideravelmente chocantes em alguns aspectos. O final da obra é espetacular, de deixar o queixo de qualquer um caído.
E por último, mas definitivamente não menos importante: o meu favorito daqui da lista. Comecei a ler Memórias do Subsolo assim que acabei Crime e Castigo (mais ou menos dois anos atrás) para tentar manter o estilo de uma leitura próximo do da outra e tive uma surpresa mais do que incrível. Esse livro reúne uma genialidade absurda de escrever sobre o psicológico humano que Dostoiévski carrega. Uma leitura ácida e um pouco complicada, eu diria que essa obra carrega o título de mais difícil da lista (sempre tem alguns que gostam de começar com um desafio). Sendo a história um monólogo de um homem que diz ter dores no fígado, Memórias do Subsolo consegue construir perfeitamente a figura que tanto aparece nos inúmeros romances de Dostoiévski, que é exatamente o homem do subsolo. Um homem amargo e triste, que odeia a sociedade da superfície e guarda em si todos os rancores pelos quais passou. A experiência de conhecer essa obra é no mínimo interessante e, para alguns, incomoda bastante, o que quer dizer que o título consegue cumprir o seu objetivo principal: tocar na ferida da sociedade. Esse daqui vai ganhar uma resenha própria em breve, o que me levou a falar um pouco menos do que eu queria, mas não deixa de ser uma leitura essencial para quem quer conhecer Dostoiévski.
E aí, já pensaram por qual começar?
Pedro Meireles
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