Ensaio sobre Mary Poppins
Mary Poppins é uma personagem célebre atualmente, é difícil encontrar pessoas que não conheçam esse nome, todos sabem que ele pertence à babá que voa com seu guarda-chuva. Ela é mais lembrada atualmente pelo musical da Disney de 1964, interpretada por Julie Andrews (que ganhou um Oscar pelo papel) e pela recente continuação "O Retorno de Mary Poppins" em que é vivida por Emily Blunt.
Entretanto, nem todos sabem que esse personagem não foi inventado pela Disney, e que portanto, não é Julie Andrews. Na verdade, Mary Poppins é personagem de uma série de 8 livros da escritora Pamela Lyndon Travers (PL Travers, como ficou conhecida), e a babá já fazia muito sucesso entre as crianças, principalmente as criança inglesas. A relutãncia da autora, que não gostava nem das ilustrações feitas para seus livros, em aceitar que suas histórias fossem levadas aos cinemas foi tanta que demorou duas décadas para que Walt Disney conseguisse convencê-la a vender os direitos de sua personagem para a produção do filme.
PL Travers discordava de Walt Disney em quase tudo sobre o filme, e a relação entre os dois estava tão desgastada que primeiramente, ela nem tinha sido convidada para a première do filme. Conta-se que ela chorou durante a exibição inteira e que só teve coragem de assistí-lo de novo anos depois.
Ao ler o livro e conhecer a história da autora é possível perceber por que ela não gostou da adaptação, que se distancia em vários pontos da imagem que Travers criou para sua babá. Ao contrário da versão de Julie Andrews, que era sempre fofa com as crianças, e convencia as crianças a arrumar o quarto fazendo a tarefa ser divertida, a Mary Poppins do livro é conhecida pelas crianças por ser brava e até rude, quase nunca sendo gentil e as repreendendo frequentemente "sem nunca explicar nada". Uma das únicas pessoas com quem Mary é gentil, e mede suas palavras para não causar ofensa é o vendedor de fósforos Bert, que aparece em apenas um capítulo do livro e nem chega a conhecer as crianças Banks.
Outra diferença perceptível é que em nenhum momento do livro, alguém da família Banks chama ou dá a entender que Mary Poppins tem uma beleza extraordinária, isso é apenas falado pelos amigos dela que aparecem durante a história e pelas ações vaidosas dela, que está sempre com roupas bonitas e adora se olhar no espelho e nas vitrines das lojas, dando a entender que ela exagera sobre sua visão de si mesma às vezes.
No filmes, Mary Poppins leva as crianças as crianças para viver aventuras que tem como objetivo convencê-las a fazer suas tarefas com diversão, como durante a música "Um pouco de açúcar' em que ela convence as crianças a arrumar o quarto cantando ou no segundo filme, na música "Can you imagine that?"
que Mary Poppins fala para as crianças que "tudo é possível, até o impossível". Essa visão sobre imaginação e magia é influência de Walt Disney, que sempre tentou propagar essas ideias em seus filmes, e principalmente, parques temáticos, mas isso nada tem a ver com a ideia original dos livros de PL Travers. Neles, Mary Poppins não fala em nenhum momento sobre imaginação, ou demonstra ter controle sobre o que acontece com as crianças. Se a ideia é que ela nunca explica nada, qual seria o sentido de atribuir essas aventuras todas à imaginação? Não seria isso uma explicação?
que Mary Poppins fala para as crianças que "tudo é possível, até o impossível". Essa visão sobre imaginação e magia é influência de Walt Disney, que sempre tentou propagar essas ideias em seus filmes, e principalmente, parques temáticos, mas isso nada tem a ver com a ideia original dos livros de PL Travers. Neles, Mary Poppins não fala em nenhum momento sobre imaginação, ou demonstra ter controle sobre o que acontece com as crianças. Se a ideia é que ela nunca explica nada, qual seria o sentido de atribuir essas aventuras todas à imaginação? Não seria isso uma explicação?
Em sua palestra "Sobre não escrever para crianças" (um texto curto e de leitura rápida que eu recomendo), PL Travers diz não poder explicar seu processo de escrita: "Não poderia dizer que qualquer coisa escrita por mim é intencional ou inventada, elas simplesmente aconteceram". E isso poderia ser dito por Mary Poppins no livro (com seus devidos ajustes), ela não inventa ou usa sua imaginação nas situações que ela e as crianças vivem, as coisas simplesmente acontecem; sem explicação necessária e muitas vezes sem consentimento de Mary, que nem está concordando em ir. Talvez isso traga ainda mais encantamento, e seja a maior diferença entre os livros e os filmes, o fato de Mary Poppins, apesar de falar com o vento, conseguir dar a volta ao mundo em um minuto e entrar em pinturas, continua sendo uma babá brava, rude e vaidosa; não tem aquele aspecto doce e gentil de fadas ou princesas da Disney, como teve quando Julie Andrews a retratou.
Ainda assim, os filmes são muito bons se vistos como obras em si e são responsáveis por permitir que Mary Poppins seja lembrada até hoje em países distantes de sua terra natal, na mente de crianças e adultos. Ainda há muitas diferenças entre os livros e os filmes que eu não citei aqui, e ler os livros fazendo essas comparações é uma experiência muito interessante, que nos faz perceber coisas novas tanto sobre os filmes como sobre os livros e as mensagens que eles passam. Espero ter incentivado vocês a (re)assistir os filmes e ler os livros dessa babá incrível e misteriosa, que nunca seremos capazes de entender completamente.
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