Resenha! _____ __ ____ (Chuck Palahniuk) ou Você devia ter parado no primeiro, Chuck
Ficha técnica
Livro: Clube da Luta (e o 2)
Autor: Chuck Palahniuk
Número de páginas: 472/280
Editora: Leya
Edição:Capa dura / Brochura
Atenção atenção atenção!
Gostaria de reforçar que o post a seguir é indicado apenas para todos aqueles que viram ou leram o primeiro Clube da Luta, pois o post será feito com base de elementos-chave para o desenvolvimento da primeira história e, consequentemente, que dão início a sua sequência. A partir daqui você está por sua própria conta e risco, leitor!
Hoje o propósito desse post é vir aqui e quebrar a primeira (também segunda) e mais famosa regra do cinema moderno: não falar sobre o clube da luta. A maioria daqueles que possui uma grande experiência em cinema já passou pelo momento da vida em que assistiu a adaptação de David Fincher para o cinema, ficou encantado e declarou o filme como uma obra prima incompreendida da sétima arte. É claro que, em certos pontos, você não esteve errado. Clube da luta é um filme que possui suas sutilezas e características próprias, é muito bom e foi realmente mal julgado pela crítica da época. Mas não é à toa que os DVD's foram um sucesso total após o lançamento com extras e depois disso as vendas do livro começaram a disparar. Nunca foi nenhum Harry Potter de Best Seller, mas teve uma quantidade considerável de vendas. Toda essa apresentação ao livro e ao filme é um tanto quanto importante pra gente conseguir desenvolver um argumento sólido do porquê das coisas serem como são quando se trata de Clube da Luta e Chuck Palahniuk.
Lançada no final do século passado, Clube da Luta é basicamente uma história sobre o rumo do mundo moderno. Nós somos apresentados ao narrador e, consequentemente, o protagonista (que não tem nome nenhum dentro da história) que é um homem simples, com um trabalho simples, que vive em um apartamento bonito e cheio de coisas de catálogos de compra. Um dia, em uma viagem (mais especificamente em uma praia de nudismo), ele conhece um homem que vende sabão, chamado Tyler Durden. Aí as coisas começam a desandar. No filme eles se conhecem em uma viagem de avião que rende um diálogo muito interessante. Quando volta de sua viagem, o narrador descobre que o andar do seu apartamento pegou fogo (com todas as suas coisas dentro), aí ele basicamente liga para a primeira pessoa da qual ele lembra o telefone: Tyler. Os dois se encontram no bar e, depois de algumas cervejas, resolvem extravasar a raiva que sentem do mundo, e não há jeito melhor de fazer isso do que caindo na porrada um com o outro. Eles gostam tanto da sensação e do sentimento de se sentir livre assim que acabam por fazer isso com uma frequência determinada, além do Tyler ter oferecido sua casa ao protagonista. A partir daí pessoas começam a se agrupar em volta dos dois e participar das lutas. Acho que fica subentendido que assim surge o primeiro clube da luta. O problema é que o clube toma proporções catastróficas: Tyler resolve levar as coisas a outro nível e cria, com participantes que passam por uma espécie de teste de seleção, um projeto que recebe o nome de Desordem e Destruição, no qual os participantes recebem tarefas periódicas que envolvem urinar na sopa de restaurantes, puxar uma briga com alguém ou até explodir uma loja. É, coisas bem simples.
Juro para vocês que isso aí em cima foi um resumo do resumo. Tentar explicar como essa história funciona é uma coisa um tanto quanto complexa, ainda mais que deixei certos detalhes para discussão posterior (no caso, nesse parágrafo mesmo). Tudo isso parece um tanto quanto "Ok, por que eu perderia meu tempo uma coisa com uma história que não tem pé nem cabeça e parece completamente sem nexo?". A resposta é simples: a sua própria pergunta. Como eu havia dito, Clube da Luta é uma leitura que trata sobre questões do cotidiano moderno. O protagonista do livro é atormentado por uma insônia enorme que ninguém do seu trabalho dá a minima. Nem ele mesmo liga tanto assim. O ponto é que ele gosta do dinheiro para poder gastar tudo com sua mobília linda igual a da página do catálogo da Ikea. Mas ele acha um método de se livrar da insônia: frequentando grupos de apoio a doentes terminais! Parasitas cerebrais, Leucemia e por aí vai. Ver o sofrimento dos outros e se sentir moribundo como um deles o faz se tornar amado, mesmo que falsamente. Isso acalenta o coração do protagonista e acaba com sua insônia. Até que conhece Marla Singer, uma moça completamente vestida de preto que teve a mesma ideia que ele. E nisso a insônia dele volta a atacá-lo e ele volta a enxergar o mundo inteiro como uma cópia da cópia (alguém andou lendo filosofia clássica) e tudo que eu descrevi no parágrafo anterior têm início. Parece que no fundo, no fundo, se analisarmos com cuidado, podemos enxergar todo esse paralelo entre Tyler-Narrador e a futura relação Tyler-Marla que se desenvolve ao longo do filme. Tyler é uma materialização antagônica do narrador: ideais anarquistas, desapego material, viver ao extremo. Basicamente um vilão que corrompe o narrador mostrando-o que o que ele acredita não vale tanto a pena assim. De toda essa filosofia surge, inclusive, o famoso monólogo do filme sobre "Seu emprego não diz quem você é, você não é seu emprego, você não é suas coisas" e etc. Em outras palavras, Tyler é uma mistura do adolescente punk-rock da década de 90 com os Hippies do Woodstock.
O livro inteiro é marcado por uma narrativa ácida e comentários desgostosos acerca da modernidade. Não é preciso nem ser um daqueles leitores de carteirinhas que conseguem notar as sutilezas do discurso de Luis de Camões no canto blá blá blá. Tudo na obra é bem jogado na cara e faz você parar um pouquinho para tentar digerir tudo aquilo que foi lido. Isso, claro, caracteriza uma leitura bem fluida, que combina muito com o propósito fugaz da história. Você não para de ler, não tem jeito. A linguagem de Chuck é completamente acessível e não tem nada de complexa, marcada por um vocabulário cotidiano que possibilita uma fácil compreensão por parte de leitores de qualquer idade, apesar de eu não recomendar a leitura se você tiver menos de 13 anos. Se você for facilmente influenciável por personagens sarcásticos e autodestrutivos, tome bastante cuidado ao ler rs.
O roteiro em si não peca em nenhum momento durante sua construção. O clímax da história e de fazer qualquer um fechar o livro, olhar para o teto e falar "nossa, cara". Sei que havia dito que você não para de ler, mas, toda regra acaba tendo sua exceção. Acho que é fácil dizer que, se não da literatura, o plot twist de Clube da Luta é fácil um dos mais famosos da história do cinema, ao lado de filmes conhecidíssimos da cultura pop como Sexto Sentido, Amnésia e Seven. Algo que explica completamente os momentos confusos da história e fecha o roteiro sem nenhum furo, além de abrir portas para o final espetacular que encerra o livro. O capítulo final é uma reunião de grande parte do sarcasmo do autor com a loucura da obra. Eu diria que é uma leitura mais que essencial para todos aqueles que têm o interesse de conhecer a literatura moderna Norte-Americana e conhecer uma das pérolas literárias da década de 90. Não é nenhum Faulkner na construção estrutural do texto, por sem uma coisa bem simples, mas a história é completamente bem feita e estruturada de maneira genial. Um verdadeiro manifesto sobre como desperdiçamos nossas vidas sentados em frente às televisões assistindo programas que só mostram como nossa vida é uma grande m&*da (não resisti em escrever um pouquinho como se estivesse no livro haha) e que a gente não vai fazer nada para mudá-las.
Grande elogio aqui à edição de colecionador de editora Leya, que vem com uma capa maravilhosa, o texto original e o roteiro do filme, além de ter um acabamento editorial impecável.
Ok, acho que esse é o suficiente para poder começar a verdadeira crítica que eu queria fazer aqui.
Clube da Luta 2. O motivo do segundo título do post.
Quando soube, em 2015 (li o primeiro livro faz um tempinho considerável) que uma continuação para um dos meus livros favoritos na época ia sair, ao invés de comemorar e fazer um grande estardalhaço com meus pais sobre como eu precisava ler, a única pergunta que eu fiz foi: "Por quê?". Li muitas e muitas críticas antes de vir ao blog escrever sobre o segundo livro e vi que a reação na maioria dos leitores foi exatamente a mesma. Quando você termina de ler Clube da Luta, você sabe que a história ali acabou, não tem motivo nenhum para tentar trazer uma continuação e quebrar o espírito de cliffhanger que o final nos dá. Realmente era algo completamente desnecessário. Mas, continuei na esperança de ler, até que, há alguns dias atrás, tive a sorte de ganhar de um amigo (Tiago, você é uma lenda) a edição da editora Leya do segundo capítulo da história que deveria ter ficado onde estava.
Você deve estar se perguntando o porquê de tanto ódio gratuito em cima de uma continuação. Mas você, leitor, sabe que certas coisas deveriam permanecer enterradas, assim como Bob deveria. No início do post eu havia dito que seria melhor você ler o post depois de ter lido/visto a primeira história, por conta dos spoilers. Acho que eu vou começar a partir daqui. Sabe quando você faz aquele trabalho lindo que se você mudar qualquer coisinha que seja, você não vai ter a capacidade de encontrar a mesma perfeição? É exatamente isso que acontece aqui. Uma obra prima finalizada, fechada com chave de ouro é trazida de volta a vida sem nenhum motivo aparente. O mais esquisito é que foi coisa de mais de 20 anos. A ideia mais provável é que Palahniuk acabou cedendo à possibilidade de fazer mais dinheiro com algo que é famoso entre os fãs. E Clube da Luta afeta tanto a massa cult (não estou dizendo que o filme é cult, mas venhamos que em qualquer grupo de "cinéfilos" tem alguém que força esse filme) quanto a massa pop, o que seria uma forma magnífica de fazer dinheiro, se fosse bem feita. Mas, vamos lá: por que Clube da Luta deveria ser deixado em paz e não ter um (com agora uma segunda) continuação à caminho?
O quadrinho (dessa vez a mídia da história foi alterada, o que daria possibilidades maravilhosas pro rumo da história) começa alguns anos depois do final do primeiro (se eu não me engano, nove anos), com o protagonista (que agora tem nome????) casado com Marla e com um filhinho. A suposta dupla-identidade de Sebastian (como se chama agora o nosso protagonista) deu uma pausa na sua vida e tudo continua normalmente. O problema é que o legado de Tyler foi preservado e os clubes da luta permanecem ao longo de todo o país. Todos os participantes veem Tyler em Sebastian e fazem trabalhos de graça para ele sempre que podem, mesmo com Seb recusando. A vida de casado também não vai muito bem, e nisso descobrimos que Marla troca os remédios de Sebastian por aspirina, para que, durante as noites, ela possa transar com Tyler, e não com seu marido. E logo de cara vemos que o filho dos dois É um tanto quanto Tylerístico, já que vemos ele tentando fazer salitre caseiro com cocô de cachorro. Até então tudo normal, sem nada excessivamente marcante para compor um roteiro. O problema é que descobrimos que três vezes por semana durante cinquenta minutos, nas consultas com seu terapeuta, Sebastian é hipnotizado para que Tyler possa "comandar o mundo" com suas ordens. E aí, numa série de eventos de remonta à obra original, a casa de Sebastian e Marla pega fogo e o filho deles é raptado.
O roteiro parece absurdamente interessante. Confesso que me senti completamente atraído por ele. Não tive muito a reclamar até o terceiro quarto do quadrinho (só daquele exército sem nexo de crianças com uma síndrome semelhante ao caso de Benjamin Button, que não fez sentido nenhum dentro da história), só que quando as coisas começam a ser explicadas de verdade, é que tudo desanda. Primeiro que a jornada pessoal do autor para compor a obra é posta dentro do quadrinho em uma quebra de quarta parede no mínimo insatisfatória. Sem contar que a parte que envolve essa história é monótona e desconexa. Segundo, que o clímax da obra e absurdamente fora de hora e também não consegue envolver nem um pouco. O plano mestre de Tyler é forte, mas resolvido de uma maneira ordinária. Agora, o pior de tudo: Tyler virou uma espécie de vírus.
É. Exatamente isso.
Chuck Palahniuk transformou o alter ego do protagonista do primeiro livro em uma doença hereditária que, inclusive, ele chega a insinuar que pode ter estado no pecado original! Então tudo montado de maneira orquestral dentro da primeira obra simplesmente é jogado no lixo. A visão antagônica que Tyler materializava em oposto ao narrador simplesmente foi transformada em uma espécie de vírus. E sim, até o filho dele tem seu próprio Tyler. Acho que isso é o suficiente para explicar o porquê de Clube da Luta 2 ser um tiro no próprio pé. Apesar da arte compensar, o roteiro afunda toda a beleza. Mas, se você estiver afim, dê uma olhada em alguns sites com promoções constantes, o Tiago comprou a que ele me deu por 1 real mais o frete. Por esse preço vale a pena ler sim, nem que seja para passar raiva.
Nota final do livro 1:
5 limõezinhos
Nota final do livro 2:
2,5 limõezinhos
Pedro Meireles
Esse Tiago, francamente, tsc tsc...
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