Resenha!: Solaris (Stanislaw Lem)
Ficha técnica
Livro: Solaris (Solyaris)
Autor: Stanislaw Lem
Número de páginas: 311
Editora: Aleph
Edição:Capa dura
Acho que eu já posso dize que do ano, a maioria dos livros que eu li ou são ou envolvem ficção científica (posso dizer que existe uma leve sutileza entre ter e ser ficção científica). Depois de Cama de Gato e Nós (eu fico um pouco em dúvida aonde eu encaixo Clube da Luta 2, mas a gente releva), chega Solaris pra continuar o altíssimo nível das leituras de Sci-Fi esse ano! Dei uma sorte de pegar uma promoção boa na Saraiva e acabei pagando não muito caro por essa edição lindíssima, que, inclusive, acho que vou começar falando dela!
Solaris é um livro do gênero de Ficção Científica escrito pelo polaco Stanislaw Lem e publicado no Brasil pela editora linda Aleph. A edição deles é a única atual e tem uma tradução maravilhosa direto do Polonês por Eneida Favre. O livro em si é uma obra de arte do âmbito visual, com uma arte de capa minimalista, mas belíssima, e com cores que destacam muito o livro, além de combinarem completamente com a história (branco e amarelo). A parte externa das páginas são pintadas de amarelo e o acabamento é em capa dura. A diagramação e a divisão dos capítulos é maravilhosa. O livro não conta com nenhum texto de apoio nem pré ou posfácios, mas acho que não faz a qualidade cair em nada. O preço da edição vagueia com as intermitentes promoções dos sites de compra, mas, com sorte, você consegue achá-lo por volta dos trinta reais.
Então, vamos começar a falar do livro em si: Solaris é, na verdade, um nome de um planeta que existe no universo do livro. O mais interessante de tudo é que nesse planeta só existe um ser: um vasto oceano senciente, que consegue se moldar, enviar ondas eletromagnéticas e até alterar centros de gravidade no próprio planeta. É, é complexo. E a história gira em torno de Kris Kelvin, um psicólogo que foi em uma missão ao planeta para estudar o oceano vivo, mas quando chega à estação, o que encontra é uma bagunça generalizada. Cientistas assustados e hostis, sendo que um deles se matou, todos trancados em suas respectivas salas com medo de qualquer tipo de contato. Para piorar, Kris descobre que eles estão sendo "visitados" por estranhas aparições que remontam ao passado de cada um. Só resta a ele tentar desvendar os segredos que a vasta massa azul esconde deles.
Uma coisa que eu gostei muito tanto para o livro quanto pra resenha é que Solaris te ganha com um parágrafo de introdução muito simples, porque só de apresentar o ambiente do livro e em torno de quê a história gira você já é cativado (pelo menos eu me senti muito assim). E posso dizer pra vocês que o livro faz jus à essa chamada forte. Um prato cheio para qualquer fã de Sci-Fi, a obra mistura uma atmosfera de terror, suspense e até mesmo um pouco de crime investigativo nas suas trezentas páginas. A jornada de Kris em busca de algum tipo de compreensão para a situação que o rodeia é, ao mesmo tempo, uma forma de prisão dentro da visão em primeira pessoa que temos dele dentro do ambiente claustrofóbico que é a Estação e, mais precisamente, a cabine em que ele vive, onde podemos acompanhar todos os pensamentos de uma maneira mais humana de enxergar pelo que ele está passando; e uma verdadeira viagem por toda a história de Solaris.
Isso acontece porque Lem, como pude perceber em minhas pesquisas ao longo da leitura, fazia parte de uma geração de escritores de Sci-Fi que difere muito da que estamos acostumados: sua narrativa, além de focar muito no enredo da história e na própria ficção em si, é também uma construção real de um panorama maior (acho que background é um termo adequado para o que estou tentando explicar) no mundo em que estamos lidando com. Dentro de Solaris somos apresentados a uma série de estudiosos Solarísticos que desenvolveram pesquisas e hipóteses e teorias e conjecturas acerca do planeta, e grande parte delas nos é apresentada ao longo do romance. Muitas páginas dos capítulos (o que pode tornar o fluxo de leitura um pouco indigesto para alguns que não tem o costume de ler obras no estilo ou algo próximo, como Tolkien) são dedicadas a nos apresentar as teorias que moldaram os conhecimentos que os personagens e, consequentemente, nós mesmo vamos ter dentro da história. Isso enriquece o enredo de uma maneira absurda, gente, porque tudo que acontece no planeta, os fenômenos, os experimentos já feitos e tudo mais que é realmente relevante na discussão do que que está acontece ali naquele cenário específico e cobre muita coisa no roteiro. É claro que durante a leitura você vai parar em um ponto e pensar "nossa, se eles tivessem feito alguma coisa assim talvez algum resultado melhor pudesse ter sido obtido", e o livro vai te responder isso em algum momento, o que é fascinante, sério. Admito que tive alguns problemas em imaginas certas descrições de eventos e singularidades do planeta, como as Simetríades e Assimetríades, mas já estava acostumado a descrições um pouco complexas demais para eu conseguir materializar na minha cabeça, principalmente to tocante à Lovecraft. Inclusive!
Vou ser sincero que nas mesmas pesquisas que eu citei no parágrafo anterior eu vi algumas breves citações à Lovecraft, coisa que era de se esperar quando se trata de horror cósmico. Éeee, eu sei que não é exatamente de horror cósmico que se trata Solaris, mas a nuance é inegável: alguns efeitos característicos da obra do mestre do horror, como a loucura característica de seus personagens após os incontáveis encontros com suas criaturas, as descrições sombrias de locais dentro da história e, claro, a noção do quão ínfimo é o homem perto dos segredos do universo é algo presente nos dois autores, apesar de que com Stanislaw conseguimos sentir isso de uma maneira menos assustadora do que em H.P (não subjugando a escrita do autor, mas é claro que esse não era o propósito principal da obra). Apesar de não ser exatamente aterrorizante, o início do livro é marcado por um ambiente que chega a dar seus calafrios, e nos vemos sozinhos nele junto com Kris, que aterrissa achando que encontraria tudo em perfeitas condições dentro da estação, só que é exatamente o contrário. Para os adeptos de jogos no estilo Survival Horror, em que você controla um personagem em uma situação parecida (sozinho em um ambiente hostil e tendo de se guiar com documentos), você consegue perceber a semelhança dos jogos com o enredo do livro em si. Mas eu acho que todo esse foco no horror acaba se desvirtuando um pouco dentro de alguns capítulos, principalmente com a chegada de Harey.
Harey, para aqueles que não tiveram contato ainda com a história, é exatamente a hóspede de Kris. A materialização de sua esposa terrestre (no qual a história por trás eu não pretendo contar rs) trás para a história todo um novo desenvolvimento diferente do que estávamos acostumados até o momento. Não que a escrita do autor mude (inclusive, Lem escreve de um jeito simples e fluido, sem utilizar de muitos recursos rebuscados, o que encaixa perfeitamente com a história, mas abusando de termos técnicos e científicos que podem fazer um leitor leigo recorrer um pouco à internet haha), mas é claramente perceptível que agora o foco principal da história é dividido, e isso é feito de maneira esplêndida: Kris não só tem uma ânsia de tentar compreender e contatar a única forma de vida do planeta como também quer entender o motivo da existência dos hóspedes em si. As cenas dos experimentos que o psicólogo faz com Harey para tentar compreendê-la são incríveis (não se preocupem que não é nada estilo Laranja Mecânica). E a relação que acaba se desenvolvendo entre os dois não podia ser mais bem aproveitada. Todas as grandes reflexões existenciais presentes na obra ou envolvem Harey ou são sobre a existência dela (claro que aqui falando de Harey versão oceano).
Para aqueles que nunca embarcaram em uma leitura de ficção científica, minha recomendação como primeira obra continua sendo Cama de Gato. Solaris é belo em sua essência e trás, em sua leitura, reflexões existências que fazem jus até à grandes nomes da literatura clássica, como Dostoiévski (não nego que vi um pouco do diálogo do Grande Inquisidor quando li o sobre um Deus defectivo que Kris tem com Snaut no final do livro), mas a complexidade das questões tratadas podem assustador um leitor iniciante de cara, pois certos pontos importantes ficam aqui nas entrelinhas de diálogos e sutilezas de pensamentos. Com um clímax bem definido mas não excepcional, Solaris encanta o leitor pela beleza de sua construção e seu desenvolvimento, mas acho que sua conclusão, apesar de absurdamente tocante e completa, perde alguma coisa em momentos atrás, na caminhada para o fim. Um ínfimo detalhe que podia ter sido melhor aproveitado, talvez um diálogo a mais. Não sei se consigo expressar o que senti, mas acho que com o final da história, senti um vazio em mim assim como Kris sentiu ao olhar sozinho para a imensidão do oceano.
Que fique claro que o vazio que eu senti não foi uma crítica haha, mas sim um enorme elogio ao modo com que a história acabou.
Nota final!
4,5 Limõezinhos
Pedro Meireles
Cê ta brincando comigo que existe um horror + sci-fi, isso deve ser maravilhoso mesmo, até pelo jeito que vc descreveu a história e a visão, mas então porque 4,5? pensei que ia sair uns cinco limões
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