Resenha!: O Eterno Marido - Fiódor Dostoiévski
Ficha técnica
Uau, parece que já fazem anos que a gente não publica nada aqui! Mentira, gente, foram só dois meses. O ponto é que eu e a bia pensamos em tornar as publicações do blog recorrentes apenas quando acabarmos um livro ou tivermos inspiração para postar um texto novo ou guia de leitura, porque parece que o tempo esse ano foi para o ralo, e temos que fracionar a parte que nos resta para dividir entre fazer nossas coisas, entre elas está ler. Mesmo lendo três livros ao mesmo tempo, acabamos demorando um pouco para terminar algum deles. Mas agora foi! Então, vamos à resenha!
Livro: O Eterno Marido
Autor: Fiódor Dostoiévski
Número de páginas: 173
Editora: Nova Fronteira
Edição: Capa dura (Coleção clássicos de ouro)
Uau, parece que já fazem anos que a gente não publica nada aqui! Mentira, gente, foram só dois meses. O ponto é que eu e a bia pensamos em tornar as publicações do blog recorrentes apenas quando acabarmos um livro ou tivermos inspiração para postar um texto novo ou guia de leitura, porque parece que o tempo esse ano foi para o ralo, e temos que fracionar a parte que nos resta para dividir entre fazer nossas coisas, entre elas está ler. Mesmo lendo três livros ao mesmo tempo, acabamos demorando um pouco para terminar algum deles. Mas agora foi! Então, vamos à resenha!
Bem, aqueles que me conhecem e têm acompanhado o blog sabem que sou um fã convicto de literatura russa, e, sempre que tenho uma oportunidade, tento conhecer algum autor novo ou livro que eu não conhecia. Nesse caso não foi diferente. No ano passado, em uma promoção da Saraiva, consegui a edição lindíssima dO Eterno Marido da Nova Fronteira, e devo dizer que o acabamento não peca em nada, sendo que a capa é majestosa (padrão da coleção), a diagramação e a tradução também impecáveis; não encontrei nenhum erro ortográfico durante a leitura e isso é um ponto extremamente positivo. Acho que a única coisa que a edição deixa a desejar é a falta de textos de apoio e de notas de rodapé, que facilitariam a leitura em alguns pontos para leitores novos. Mesmo procurando (e muito) saber sobre a tradução da edição, não encontrei em lugar algum, apesar de imaginar que seja como a maioria das obras russas da editora: vinda do francês. Mas acho que não teve muito perdido no processo, já que a tradução se assemelhava um tanto com a de Crime e Castigo. Recomendo a compra principalmente pelas constantes promoções na Amazon, que levam o preço do livro por volta de 15 reais, mas se algum dia milagrosamente a edição da Editora 34 entrar em promoção, devo dizer que vale mais a pena.
Agora que os fatos estruturais já foram qualificados, vamos à alma da obra: a história em si. O Eterno Marido é um texto curto, marcando a maturidade de Dostoiévski e sendo considerado por muitos estudiosos do escritor o romance mais bem acabado do autor. O enredo também é relativamente simples: A história é narrada pelo ponto de vista de Veltchaninóv, um homem que se mudou para São Petersburgo para resolver assuntos de um processo judicial. Certo dia, Veltchaninóv, que já se encontrava marcado por pensamentos obscuros "característicos de quem pensa demais", como diz um Doutor na história, começa a notar um certo estranho em alguns momentos do seu cotidiano. Um homem com um chapéu cintado de crepe (marca comum de luto na época) é visto cotidianemente na rotina do nosso protagonista e isso começa a despertar nele mais pensamentos obscuros e uma paranoia incessante que começa a corroê-lo por dentro. Pode ser um pouco de exagero? Acho que sim, mas vale lembrar que Veltchaninov têm, no início do romance, características que remetem muito à figura comum de Dostoiévski em seus romances: o homem do Subsolo (para que quiser saber mais sobre a faceta, leia a resenha aqui do blog e também o livro!). Tudo isso culmina quando, em uma tarde em que o protagonista já estava imerso em seus problemáticos pensamentos, ele vê o homem do outro lado de seu apartamento, caminhando para encontrá-lo exatamente em sua residência.
Bem, eu honestamente prefiro parar aqui, porque mesmo que todas as sinopses do livro contem o que acontece a seguir, eu acho que é uma certa falta de suspense, porque a construção da cena em que eu terminei no último parágrafo caminha para um suspense enorme que é construído durante os primeiros capítulos do livro, então acho que revelar o que acontece faz a cena perder um pouco a graça, principalmente depois que descobrimos qual é a relação entre Veltchaninóv e o homem com o chapéu cintado de crepe.
Mas, enfim. É estranho tentar classificar qual é exatamente o teor dessa história. Ela vaga entre uma tragédia que perambula a primeira parte do livro, mas acaba caminhando para uma verdadeira comédia no desenrolar final do enredo. Por mais estranho que isso pareça, não exatamente também uma obra tragicômica. Acho que eu posso dizer que ela funciona por si só do jeito que ela é. Quando lemos, é possível perceber todos os elementos de diversos gêneros, como a melancolia em todo o arco de Lisa, a comédia na casa das meninas, o drama no início do livro, e mesmo o romance em um ou dois capítulos. Essa fusão de sentimentos é o que torna O Eterno Marido uma obra fantástica. Dostoiévski consegue, com um enredo simples, expôr diversos pontos complexos da psique humana (algo que levou Freud a estudá-lo, inclusive) de uma forma que segue a linearidade da escola literária da época (algo que o difere de modernistas como Joyce e Faulkner), tornando a consciência das personagens um leme que guia o rumo das ações e o desenrolar do enredo. Sofremos com Lisa, rimos com as meninas da casa de Zakhlébinin e nos tornamos paranoicos com Veltchaninóv.
Não tem como deixar de ressaltar a psique das personagens como elemento extremamente positivo do enredo. Alguns momentos mais interessantes se concentram nas conversas de madrugada entre o protagonista e o bêbado homem do chapéu, sendo expostos pontos de vistas de uma complexidade psicológica que só pode ser classificada como essencialmente humana. Existe, na história, um jogo de marionetes entre todas as personagens; no momento em que um acha que tem a vantagem, o outro se revela estar acima do esperado pelo outro. Acho que essa complexidade é muito bem representada na figura de Pável Pavlovitch (que não foi citado aqui, mas que é revelado logo), que exprime um amor odioso à figura de Veltchaninóv, odiando-o pelo que ele é mas amando ao mesmo tempo a intelectualidade (essa palavra existe?) do homem. Esse ódio culmina em um ato impulsivo de Pável, que me lembrou muito o suicídio de Svidrigáilov em Crime e Castigo (ambos personagens extremamente malucos).
O Eterno Marido é uma leitura curta e rápida, mas absolutamente divertida e inteligente. Para qualquer um que queira conhecer ou queira explorar o universo de Dostoiévski, é uma leitura que deveria ser obrigatória, servindo muito bem como obra introdutora quanto obra para aprofundamento, já que alguns temas presentes são recorrentes em outras obras do autor.
Nota final:
5 limõezinhos!
Pedro Meireles
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