Resenha!: The grapes of wrath (As vinhas da ira) - John Steinbeck
Livro: The grapes of Wrath
Autor: John Steinbeck
Número de páginas: 490
Editora: Penguin
Edição: Mass paperback
The grapes of wrath é um livro publicado na primeira metade do século passado. Um bom contexto histórico precisa ser estabelecido antes que comecemos a falar sobre a história do livro: no final da década de 20, os Estados Unidos passaram por um grande colapso econômico, que ficou marcado na história como a Grande Depressão. Pelo nome, já é de se imaginar o que aconteceu. Basicamente, da noite pro dia, inúmeros investidores de ações na bolsa de valores perderam altas quantias monetárias. Famílias perderam o sustento mensal pois não havia mais emprego para ser ofertado. Terras tiveram que ser vendidas. O PIB do mundo inteiro caiu drasticamente. E é nesse cenário que se passa a história.
Para aqueles familiarizados com romances brasileiros que retratam a região nordestina, sabem que a figura do sertanejo é frequentemente representada como fraca, desiludida e ignorante. Sempre vagando em um nomadismo sem fim. Um claro exemplo é a de Fabiano, um dos protagonistas de Vidas Secas, que inclusive é o próximo livro a ser resenhado. No livro de Steinbeck, quem toma o foco principal são os chamados migrants, ou algo como migrantes, em português. A situação descrita durante o livro todo é a de uma terra desolada, tomada pela desesperança frente as mudanças que o país passa. Os grandes donos de terras precisam expulsar todos aqueles inquilinos que ocupam o seu espaço. O campo precisa ser econômico em tempos de crise, ele precisa ser mecanizado para poupar tempo. E aí é que entra a história da família Joad.
Um fato interessante é que o livro alterna, entre seus capítulos, os pontos de vista da história: em um, temos sempre a história da família, grande parte das vezes contada com o foco no filho mais velho, Tom Joad; já no outro, temos uma visão sempre de alguém de fora, ou de um panorama geral do que estava acontecendo em regiões próximas. Eu honestamente gostei bastante desses capítulos a parte, principalmente por conta de todas as reflexões do ponto de vista humano dos acontecimentos narrados. Inclusive, é muito notável, em diversos momentos da narrativa, alusões cristãs no enredo. O primeiro capítulo já começa com uma, apesar de serem sempre sutis. Uma pesquisa pós-leitura me ajudou, inclusive, a compreender muitas dessas referências a momentos bíblicos presentes na trama. O artigo se chama "Êxodo e miséria" e tem um subtítulo que envolve Vidas Secas, O quinze e essa obra. Acho que vale a pena a leitura (e ficam aqui os devidos créditos ao autor do artigo!). Mas vamos voltar ao ponto da resenha! Acho que flutuei bastante e acabei não falando muito do enredo. Mas o que acontece é que, no final das contas, a família de Tom, que havia acabado de sair da prisão, sofreu junto com todas as outras famílias que tiveram que largar a própria casa em prol de algo que não tinha ao menos algo a ver com eles. E aí se inicia uma longa road trip da família, montada em um caminhão abarrotado das coisas que todos carregavam, em direção à Califórnia. A parte legal é que aí a califórnia é vendida completamente como um lugar lindo e com inúmeras ofertas de trabalho como colhedores de frutas em grandes plantações. Acho que todos sabem como isso acaba.
Nada tenho a reclamar da escrita oralizada de Steinbeck. Completamente condizente com a posição social da família (e de metade dos EUA na época) e com o ambiente em que eles se encontram, a fala é impressa no papel do mesmo jeito que é proferida. Vocábulos como Scared se tornam Scairt, inúmeras contrações e omissões de letras em palavras e inúmeras outras situações do tipo. É um estilo muito caipiresco de se falar. Um fato curioso é que o escritor realmente dedicou um tempo da sua vida a viver com o povo migrante para escrever a obra, o que torna tudo muito mais verossímil (a dedicatória dele inclusive é: "To Tom, who lived it"). Foi uma parte extremamente divertida da leitura me deparar com vocábulos já conhecidos, mas completamente diferentes.
Em questão de enredo, a história segue uma narrativa muito linear e simples, sendo que ela acompanha toda a jornada da família em direção à Califórnia. Mas é essa simplicidade que torna tudo mais belo. O narrador, por destoar completamente do estilo humilde e simples das personagens, confere um contraste muito grande ao leitor, podendo sentir melhor as características psicológicas descritas ali, de um modo completamente formal, sendo posta em prática como se a própria personagem estivesse ali, dialogando com você. O apelo emotivo é enorme, com passagens excessivamente tristes que podem fazer você se afastar do livro por alguns minutos para se debruçar no colo de alguém e chorar bastante. Não é exagero, de modo algum. A situação da família é tocante, e continuo exaltando que a humildade e a simplicidade de todos é o que contribui para que tudo se torne assim. A ignorância também é muito presente, mas aquilo que sempre se ressalta é a humildade. Existem inúmeras cenas que os protagonistas são ajudados por alguém que mal conheciam, e acabam acompanhando os mesmos ao longo da jornada.
A edição que li foi uma bem simples da Penguin Modern Classics, que é de mass paperback e tem um acabamento bem simples, mas que vale bastante. Tem algumas recomendações de textos de apoio no início do livro, e tem uma introdução à obra que ainda não parei para ler, mas, em geral, a edição não peca muito. Aqui no Brasil aparentemente existem apenas duas edições, e o pouco que li do pdf de uma (para tentar entender e ver como alguns termos bem orais haviam sido traduzidos), não me fez querer aproximar muito do texto, provavelmente por conta do contato já estabelecido com o idioma original que me fez estranhar as adaptações necessárias para se fazer compreender a obra.
Os simbolismos religiosos, como já citei anteriormente, são extremamente presentes, e podem facilmente ser objetos para estudos futuros das simbologias da obra. O próprio título é uma alusão a uma passagem do livro do Apocalipse. Todos os personagens têm uma fé expressamente forte, com destaque para o controverso, mas puro, Reverendo Casy, que é destaque de uma das passagens mais interessantes de toda a obra. A perda de algumas figuras na família também é um ponto muito interessante que se destaca durante a leitura. Sinto que, enquanto lia, muitas passagens tinham significados à parte, e sigo na busca de tentar decifrá-los em pesquisas que faço até o momento. O simbolismo de Steinbeck é muito bonito, gente. O final, inclusive, me faz pensar até hoje. A figura de Rosasharn, a filha da família, grávida do marido Connie, é algo envolto em certo mistério.
A edição que li foi uma bem simples da Penguin Modern Classics, que é de mass paperback e tem um acabamento bem simples, mas que vale bastante. Tem algumas recomendações de textos de apoio no início do livro, e tem uma introdução à obra que ainda não parei para ler, mas, em geral, a edição não peca muito. Aqui no Brasil aparentemente existem apenas duas edições, e o pouco que li do pdf de uma (para tentar entender e ver como alguns termos bem orais haviam sido traduzidos), não me fez querer aproximar muito do texto, provavelmente por conta do contato já estabelecido com o idioma original que me fez estranhar as adaptações necessárias para se fazer compreender a obra.
Os simbolismos religiosos, como já citei anteriormente, são extremamente presentes, e podem facilmente ser objetos para estudos futuros das simbologias da obra. O próprio título é uma alusão a uma passagem do livro do Apocalipse. Todos os personagens têm uma fé expressamente forte, com destaque para o controverso, mas puro, Reverendo Casy, que é destaque de uma das passagens mais interessantes de toda a obra. A perda de algumas figuras na família também é um ponto muito interessante que se destaca durante a leitura. Sinto que, enquanto lia, muitas passagens tinham significados à parte, e sigo na busca de tentar decifrá-los em pesquisas que faço até o momento. O simbolismo de Steinbeck é muito bonito, gente. O final, inclusive, me faz pensar até hoje. A figura de Rosasharn, a filha da família, grávida do marido Connie, é algo envolto em certo mistério.
O livro é leitura obrigatória para todos aqueles que tem vontade de se aventurar pelos campos da literatura estadunidense, e de preferência, leia o livro no original, porque pelo pouco que eu vi da tradução, muito da essência se perde. É um conto que qualquer um que tenha apreço pela condição humana deve ler.
Nota final:
5 limõezinhos
Pedro Meireles
Nota final:
5 limõezinhos
Pedro Meireles
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